A disfunção temporomandibular trouxe a paciente Anne à terapia. Dores de cabeça, dificuldade para dormir, angustia, dor cervical, dor no ombro direito, cansaço, problemas digestivos e nervosismo acentuado foram algumas das queixas relatadas pela paciente.
Os diversos tratamentos experimentados anteriormente ajudaram para que ela sentisse menos dor ao longo das tentativas de sanar o problema, porém nunca foram totalmente eficientes. Mais do que um simples processo físico, Anne carregava causas emocionais que somatizavam em seu corpo.
Somatização se refere a um queixa física não associada a nenhuma doença ou mecanismo que a explique e geralmente está correlacionada a processos emocionais.
A mandíbula na visão oriental assim como para algumas linhas da psicologia, somatiza as reações reprimidas da raiva, uma das emoções básicas no conhecimento médico do velho mundo e influente no equilíbrio/desequilíbrio da saúde dos indivíduos.
A raiva retida acaba por expressar-se em tensões na mandíbula e cervical que, tensionando músculos da região, inicia processos degenerativos na articulação temporomandibular. O estresse dos músculos acaba geralmente levando a mandíbula à frente e junto com ela vértebras cervicais, o que desencadeia dores de cabeça.
Os olhos de Anne eram vermelhos e secos, o que nos revelava desequilíbrio do fígado. Órgão na medicina oriental associado à emoção da raiva. Afetado pela raiva, o mau funcionamento do fígado leva o corpo a sofrer um encurtamento em sua porção anterior, e a rodar da direita para a esquerda. Como o ombro direito é direcionado para baixo e para frente comprime tecidos como músculos e ligamentos, gerando dor e patologias específicas do complexo do ombro.
O encurtamento e rotação da parte anterior do corpo acaba por diminuir a mecânica respiratória e desencadeia angustia, sobrecarrega vísceras e influencia na digestão, absorção e eliminação de alimentos. A atividade visceral deficiente provoca sensação de cansaço e a irritabilidade aumenta diante de todo um conjunto de desequilíbrios.
Tratar um problema físico como a disfunção da articulação temporomandibular na visão oriental obedece ao raciocínio de que o físico e o emocional influenciam um ao outro. Mudanças comportamentais podem ser influenciadas pelo equilíbrio do corpo físico, assim como para sanar o físico é necessário resolver o campo das emoções e o órgão correspondente.
O fígado, órgão associado à raiva pode ser trabalhado através do conhecimento tradicional tailandês na mudança de hábitos, uso de ervas em chás, alimentação e em técnicas que utilizam plantas em contato com a pele; massagem e práticas espirituais como a meditação.
Exemplos de plantas indicadas pela medicina tradicional tailandesa para o equilíbrio do fígado são a cúrcuma; o girassol, estimulante da produção de células sanguíneas e auxiliar na vascularização; limão, antioxidante rico em vitamina C utilizado desde longa data para desintoxicar o organismo em geral; menta, relaxante para os músculos, diminui cólicas e contribui para o correto funcionamento das vísceras; e a Ventilago Denticulata, conhecida na Ásia pelo nome de Rang Daeng, encontrada em farmácias de medicina natural.
Rang Daeng é uma planta originária da Austrália e difundinda nas florestas da Tailândia. Ela é indicada para diversos problemas que incluem dores musculares, articulares e em tendões, colesterol elevado, pressão alta, níveis elevados de açúcar no sangue e possui atividade anti-inflamatória e antimicrobiana.
O uso destas ervas auxilia a atividade hepática e o bom funcionamento do fígado auxilia no controle de emoções, em especial a raiva, diminuindo as dores somatizadas pelo corpo.